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Papo Reto -

Papo Reto

O fracasso de um homem bem sucedido

O fracasso de um homem bem sucedido
11/05/2016
Bem sucedido, porém, vazio. Somos uma geração de homens que não sabemos quem somos, porque estamos aqui, ou aonde estamos indo.

Tenho me sentido um impostor a vida toda. Por isso uso um terno bonito, assumo uma postura de pessoa bem-sucedida, coloco um sorriso no rosto, dou a impressão de estar com tudo. Sou o retrato do sucesso. Mas não deixe que a foto engane você. Há outro retrato que nunca mostro a ninguém. Se você me enxergasse como eu me enxergo, veria uma pessoa diferente. Veria um homem que se sente inseguro e incompetente, um homem que perde horas de sono à noite porque está preocupado em ser bem-sucedido. Você veria um homem que acredita nada ter e por isso precisa fingir que tem algo - qualquer coisa - a oferecer. Veria um homem que se pergunta se existe alguma coisa debaixo desse belo terno.

O menino de terno: um excelente retrato de minha vida como homem. Exteriormente, finjo que estou com tudo enquanto, quanto, por dentro, estou desmoronando. Aos seis anos, me deparei com a separação dos meus pai. Lembro-me distintamente do vazio persistente de nossa casa, da saudade que sentia e quanto anelava por sua presença conosco. Eu sonhava que um dia ele voltaria. Eu também temia pelo bem-estar de minha mãe. Nas duas primeiras semanas de aula, na primeira série, eu saí furtivamente da classe, sem ninguém ver e corria para casa por preocupação com minha mãe. Enquanto o restante dos meus amigos da escola estavam preocupados com o "A B C", eu estava preocupado como iríamos sobreviver. O garoto de seis anos, tornou-se um homenzinho. Eu estava preso a necessidade de ser um homem para minha mãe e a solidão de ser um garotinho sem pai.

Eu não era um homem, nem me sentia como tal, mas isso não importava. O que importava era que, quando menino, meu mundo ruiu aos meus pés e fui confrontado com um caos apavorante. Minhas circunstâncias me forçaram a inventar alguma forma para enfrentar meu terror, confusão e tristeza. Mas como eu podia enfrentar isso tudo se não havia nada por trás de mim? Como podia ser um homem, quando na realidade eu era um garotinho? Convenci-me de que ser homem era algo impossível, algo como tentar tirar água fresca de um poço vazio. Assim, o impostor, começou a sua jornada.

Foi assim que vivi, quando criança, e foi dessa forma que escolhi chegar à idade adulta. A maioria dos homens enfrenta casamentos, filhos, vocação e finanças com grande facilidade; eu enfrentei essas coisas com um medo paralisador. Por exemplo, o casamento foi uma decisão torturante, com a qual flertei por anos.

Eu saía com alguém por alguns meses ou mesmo anos e - à medida que a perspectiva de casamento parecia estar cada vez mais perto - subitamente, milagrosamente, eu evocava dúvidas "vindas de Deus". E eram dúvidas convincentes. Incluíam questões de como ela conseguiria viver num trailer, dependendo unicamente do salário de pastor, ou conjecturas sobre o que acontecera com a "magia" que existia antes de nós.

Meu padrão de namoro era tão previsível que chegava a ser apavorante. Quanto mais perto alguém chegava do meu coração, mais furiosamente as dúvidas brotavam e, mais depressa, eu corria. Eu estava correndo à toda; do que, eu não sabia - mas estava correndo. Sempre me desculpava explicando com desembaraço, às pessoas, que isso era apenas a minha personalidade. "Olhem, sou um cara livre e sossegado". Mas eu não conseguia escapar à desconfiança de que estava correndo das própias coisas que mais desejava. Embora estivesse apavorado, eu sabia que desejava desesperadamente amar e ser amado. Desejava apaixonadamente partilhar minha vida com alguém especial, alguém que caminhasse a jornada comigo. Eu amava criançãs, mas nunca acreditei que podia ser pai.

Para compensar meu temor e meus sentimentos de incompetência, segui o padrão que aprendi em criança: descobri uma forma de me sentir como homem. Até atingir os vinte e oito anos de idade, já realizara muitos dos meus sonhos vocacionais. Era competente e bem-sucedido em meu ministério. Atirei-me ao trabalho com uma fúria terrível. Eu viva para competir e vencer, e desafiava abertamente as pessoas a me dizerem que eu não conseguia realizar qualquer trabalho. Todas as vezes provava que elas estavam erradas. Mesmo retrato, só um pouco mais velho - belo terno, sorriso bonzinho, postura de sucesso.

Mas havia algo terrivelmente errado. Eu era bem-sucedido, porém, vazio. Quanto mais eu me destacva no trabalho e na minha formação, mais eu me sentia que me distinguia em coisas sem importância. Arrastava-me através do labirinto que a sociedade coloca diante de seus homens e chegava a um beco sem saída. Muito pior - eu era um beco sem saída! Secretamente, eu vivia com esete lema: "No meu mundo não tenho o que é necessário para ser um homem." Toda a minha energia era gasta para convencer a todos de que eu tinha valor por ser competente. Meu poço estava vazio e eu tentava enchê-lo com coisas que provinham de fora de mim, coisas que não eram realmente importantes. Viver e amar custa um milhão de dólares, e apenas uns poucos centavos soavam em meu bolso.

Se fosse parar por aqui, esse texto seria só tragédia. Damos muita importância a histórias. Uma das principais razões para isso é a nossa convicção de que somos uma geração de homens sem histórias. Somos uma geração de homens que não sabemos quem somos, porque estamos aqui, ou aonde estamos indo. Todos nós estamos nessa jornada chamada masculinidade, mas, poucos de nós, se formos honestos, sentimo-nos à vontade na senda que trilhamos. Por não ter tido o privilégio de crescer com meu pai, eu não acreditava que tivesse qualquer história a me respaldar, qualquer história para levar adiante. Eu sentia que não havia ninguém por mim, por isso eu tinha de me defender sozinho.

A ausência de história na minha vida forçou-me a voltar à história admirável de meu Pai, o único que sempre esteve presente. E descobri que tenho, sim, uma história para contar. De minha perda brotou uma história rica e variada. Agora posso ver com um pouco mais de clareza que minha história diz respeito ao toque redentor, incapacitador, de um Pai; é uma história que deu coragem a um homem apavorado, confiança a um homem inseguro e esperança a um homem desanimado.

Se nós sentássemos para tomar um café e você me visse hoje, veria um retrato realmente estranho. De tempos em tempos, você veria um garoto que o engana com um terno e um sorriso. Você também observaria um garoto que teme e titubeia. Mas, na maior parte do tempo, você veria um homem - não um garoto - que mudou dramaticamente. Você conversaria com um homem que ama a esposa e está totalmente encantado com o filho. Veria um homem que tem algumas amizades chegadas e que já não aliena seu pai, a quem ama.

Eu costumava pensar que ser homem era pular da cama, toda manhã, com uma história perfeita - nenhum medo, nenhuma tragédia, nenhuma insegurança, nenhuma dúvida sobre si mesmo. Mas agora creio que, ser homem, neste mundo é ser alguém que tem coragem de vencer seu medo, fé para responder às suas dúvidas e amor para levá-lo além da perda. A esperança, para mim, reside no meu potencial de tocar as pessoas redentoramente, nas gerações vindouras, em vez de apenas passar esbarrando por elas, como um fantasma torturado.



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